segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Permito-me sonhar

Lembro-me bem de ser criança, de sair de casa sozinha rumo ao desbarato do campo. Tudo me entretinha. As plantinhas que airosamente se abanavam na brisa, os caracóis engalfinhados uns nos outros, os pássaros a regatear larvas, aquele cheiro da terra doce e intenso. Chegava a casa completamente encardida. Muitos eram os abanões de reprimenda da minha avó enquanto me esfregava o cabelo empastado com shampoo, mas eu sabia que de noite ia ser envolvida pelos seus ternos braços… e tudo era tão simples.

Agora os pássaros já não páram no parapeito da minha janela, e nunca mais fui passear sozinha. Agora há homens maus, mulheres ainda piores, e criancinhas estupidificadas pelo mimo, às quais eu punha qualquer coisa pela goela abaixo na ânsia de as calar – mas não posso! Arggghhhhhhh, raios!

Sonho pelo dia em que tudo seja simples de novo: que os maus sejam castigados, que os bons ganhem caramelos e bombocas, e que tenha sempre mil e uma prendas debaixo da árvore de Natal. E animais. Quero muitos!

Esta vida é frenética. Eu só queria que fosse simples.