sábado, 28 de fevereiro de 2009

Adeus...

...

Caí. Espalhei-me em pérolas vivas
Agitadas no chão frio do teu quarto.

Morri. Alva e desesperada
De não saber como me enterrar.

Chorei. Por absolvição
Quis unir os pontos e ver por trás

Algo me ardeu e não me apagou
Queixei, mas não resolvi

Comi meio planeta…
Não ganhei meio pão.



Desculpa-me, mas vou embora.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Muito para além




E lá se lançou na derradeira Busca, certa de que nada construiu na insipiência de tantos anos passados. A mochila gasta e velha às costas é tudo o que alguma vez teve… e acredita ela que é só do que precisa.
Muito para além ela sabe que encontrará o seu caminho.

… de tal maneira, que jamais retornará.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O ano que se avizinha

Nas vésperas de mais uma passagem de ano sento-me junto ao aquecedor, envolta em pensamentos...
Existe em mim, como em qualquer comum mortal, a vontade de arremessar para trás as más memórias do passado e passar uma borracha sobre tudo o que fiz (ou creio ter feito) de errado no ano anterior.
A 12ª badalada será o deadline para a metamorfose da minha essência. “Começar da estaca zero, Rossana”, lá me forço a lembrar repetidas vezes.
Vou perdoar as palavras e actos que me feriram e vou tolerar o meu próximo, até aquele cujas atitudes me enfastiam ou então aquele outro fulano cujas atitudes me revoltam. O eterno e sempre em voga cliché do “vou ser melhor pessoa”…
As arrelias familiares, os amigos perdidos, os falhanços sentimentais, a nota que falta no bolso, o carro que avaria em plena via rápida… São tudo partes integrantes desta minha vida, enfim esta vidinha que é a de toda a gente. Culpar-me ou, ao invés, arranjar bodes expiatórios para os problemas quotidianos não me vai aliviar a mágoa nem tão pouco recolher-me as lágrimas dos olhos. Há que resignar sorrindo… são os ossos deste ofício.
Para o ano vou olhar-me ao espelho e entender que cada sarda está no sítio onde deve estar, que o nariz mastodôntico ainda podia ser maior, que não sou o que visto e muito menos o que os outros pensam de mim, que a minha estatura não me foi atribuída de modo algum em proporção do meu valor…
Para o ano vou deixar para trás a ideia de insignificância pessoal, aprender a ser isenta de complexos, ser LIVRE… deixar andar, calmamente...
Aceitar sem vergonha o meu jeito de ser, ora fechado e espinhoso, ora dado e dócil… aceitar sem revolta nem rancor o facto de que uns gostam de mim e de que outros nem por isso. Entender que nem sempre os dados caem a meu favor, mas acreditar fervorosamente que um dia vão sair os meus números.

Aceitar… Tolerar… Perdoar.

Tal como toda a gente, enfrento diariamente esta luta que é vida, a eterna dicotomia entre o esperançar ou esmorecer, estilhaçar e colar, claudicar ou batalhar, sucumbir ou renascer… mas só nas vésperas de passagem de ano é que dou realmente o “salto de fé”.

Só nas vésperas de passagem de ano é que penso para comigo “desta vez é que é, esta noite eu vou mudar.”

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Maçãs


Não quero que seja tarde de mais
Poder bater a asa e chegar lá
Sem mágoa ou ferida aberta
Regada com álcool na garganta para fluir
E dizer o que cá nasce,
Não tapar com pá
Porque o vento sempre descobre,
E eu não quero ter frio.

Meu amigo…
Tenho um regaço grande
Bem ajeitadas cabem lá 20 maçãs.
E das grandes!
O coração quer dar o que a cabeça não deixa
… Bom, mas isto comigo é à vez:
Hoje ganha o coração!
… Amanhã perde a cabeça.

Come esta maçã. Há mais, se quiseres!

Um velho saco no chão.
Incrível o que as gentes deitam fora!
Nele cabe tudo o que me derem:
Família, amigos, amores e… maçãs.
Confesso…
Gosto de ti. Lembras-me pinhões.
Sei lá por quê! Porque sim… ora!
Acomoda-te mas é no meu saco.

… E come esta maçã. Há mais, se quiseres!

Contigo do meu lado, sede e fome silenciam.
Não sinto frio ou calor.
Receio nada!
Sei que os girassóis são flores…
e que estas maçãs são vermelhas.
Nada mais interessa.
… E sou finalmente eu!

Não quero que seja tarde de mais
Poder bater a asa e chegar lá
Sem mágoa ou ferida aberta
Regada com álcool na garganta para fluir
E dizer o que cá nasce,
Não tapar com pá
Porque o vento sempre descobre,
E eu não quero ter frio.