segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Permito-me sonhar

Lembro-me bem de ser criança, de sair de casa sozinha rumo ao desbarato do campo. Tudo me entretinha. As plantinhas que airosamente se abanavam na brisa, os caracóis engalfinhados uns nos outros, os pássaros a regatear larvas, aquele cheiro da terra doce e intenso. Chegava a casa completamente encardida. Muitos eram os abanões de reprimenda da minha avó enquanto me esfregava o cabelo empastado com shampoo, mas eu sabia que de noite ia ser envolvida pelos seus ternos braços… e tudo era tão simples.

Agora os pássaros já não páram no parapeito da minha janela, e nunca mais fui passear sozinha. Agora há homens maus, mulheres ainda piores, e criancinhas estupidificadas pelo mimo, às quais eu punha qualquer coisa pela goela abaixo na ânsia de as calar – mas não posso! Arggghhhhhhh, raios!

Sonho pelo dia em que tudo seja simples de novo: que os maus sejam castigados, que os bons ganhem caramelos e bombocas, e que tenha sempre mil e uma prendas debaixo da árvore de Natal. E animais. Quero muitos!

Esta vida é frenética. Eu só queria que fosse simples.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

D'oh!!!


Homer Simpson got nothin' on me!


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O desengano impera hoje

Foi um daqueles dias no trabalho… atropelos, contratempos, desastres! Ao tumulto exterior some-se-lhe o desassossego interior e ei-lo: dilúvio do ego!
Estive prestes a esbarrar num estado de psico-compulsão profissional (isso existe?) e ao longo do dia nada mais me passou pela cabeça senão a ideia de devorar meia dúzia de hambúrgueres e chutar todo e qualquer calhau – vivo e não-vivo - que se atravessasse no meu caminho!
Já no rescaldo do dia, enquanto rumava (e praguejava) a caminho de casa na incessante busca dessa tal de calma interior (que devo ter perdido algures entre o banho e o pequeno almoço), comecei a abrandar o passo e pude finalmente perceber que a minha respiração acalmava e que o coração já tocava a sua velha melodia do desafogo. Tra-lá-lá… Troilará
A poucos metros de casa já eu esboçava sorrisos mentais e suspirava de alívio; quase que ouvia o batucar dos meus pés na calçada e quase quase que jurava dançar ao seu ritmo.

Chego a casa e vejo na TV que morreram 7 miúdas num acidente estúpido em Penafiel! Tudo estragado!

domingo, 13 de setembro de 2009

Ela...




Mão trigueira de redenção e perseverança
Que nunca resigna, mas nem sempre alcança.
Crente e determinada, qual espada
Batalhando todo o dia, por um dia
Acender chamas e reavivar ganas
Em mim. Por mim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tutorial sobre redenção da alma



F#@$-se!

Pronto, disse-o... muito melhor agora!

Nota: mais eficaz se acompanhado de violência física efectiva*.



* contra pessoas**

** estúpidas.



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Lá, onde me aguardam

Pega nas tuas coisas; vem leve. Traz só o que necessitas e desapareceremos. Sem rasto rumaremos perdidos… tão livremente errantes.
Deixa-os vir também: a dor, o agravo e a redenção. Hoje tudo importa e nada interessa. Somos todos farinha do mesmo estúpido saco.
Acelera! Pelo espelho retrovisor vamos ver o mar e as colinas emaranhados tal qual odes triunfais a quem nos fez brotar da mesma terra. E desaparecerão. Como fumo.
Nuvens eclipsam-se na nossa face e a liberdade está a um bater de asa. Se alguém houver que não queira vir, não lamento por ele, pois verá a seu tempo o que contemplaremos já hoje. Limpo. Solto.
... Enquanto a brisa me eleva rumo ao meu destino final, olho para paredes translúcidas e vejo para além de borralhos e lamaçais. Seremos muitos e predestinados; devolvidos à nossa essência, gritaremos em uníssono PAZ!
Vês? Vês para além?
Bem te disse para trazeres pouca bagagem…

sábado, 29 de agosto de 2009

Gripe A

RECUSO-ME a falar sobre esta questão!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Esplanada

Todos os Sábados lá iam os dois beber cerveja fresca e ratar uns amendoins em clima de amizade e humor desenfreado.

Entoava ela, meio ébria, enquanto se erguia da cadeira e elevava a sua caneca em jeito de discurso:
- Queres criatividade? Pois bem… criatividade é o que te vou dar a conhecer, tal qual poeta ávido de chorar memórias de intrínseca existência em velhas folhas esquecidas por entre ratazanas, pó e anos de eterna solidão e suplício…
Não vou permitir que esta tristeza que me aprisiona por entre ténues barras de metal, que formam o cárcere desta minha pequena - porém conturbada - vidinha, estraguem este belo momento de confraternização entre irmãos! É um momento único, porque raro, que se deve aproveitar até ao fim…

E rematou com um sorriso de satisfação:
- Definição de fim: essa bela localidade lá dos confins do recôndito, onde se situa o tutano de tudo!

Ele retorquiu, por entre gargalhadas:
- e se te calasses?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A pomba


Queria tanto ser como ela!
Formosa e distinta num parapeito de janela…
Ora a debicar umas migalhitas,
Ora a cagar na cachola dos que a aborrecem.

Sinto a tua falta

À noite
Ergue-se timidamente.
Mais que humana
Corrosiva e lacerante.
Esta saudade de ti

Nada se edificou
A não ser o devoluto.

Sem ti sou…
O branco ostensivo
O copo vazio
O eco, eco, eco, eco…
a bagatela.

Sinto a tua falta.
E é só isso o que sinto.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Muito para além II



… Superar a aridez dos desertos da alma e convertê-los em jardins frutados. É esse o caminho que ela trilha.



Naquele dia nasceu um sol mais vigoroso que nos outros. Ela saltou da cama de rompante, algo que já não acreditava ser novamente possível – tantos, tantos meses passados em letargia! – , e lá correu desalinhada até à porta de casa. Parecia saber!
Deixou-se cair prontamente de joelhos e abriu um pedaço mal-enjorcado de papel que tinha esgravatado freneticamente lá na frincha da porta. Algures nos borrões encarquilhados os seus olhos agitados puderam ler:

"Por tantas vezes falámos, por tantas vezes desaparecemos uma da outra… Não sei se é desse perfume que nunca cheirei ou desses braços emagrecidos pelas dores da vida que nunca me abraçaram, mas sinto a tua falta. “

“Oh, diabos!” – pensou ela de sobrolho franzido, quando notou que o bilhete não estava assinado...

segunda-feira, 23 de março de 2009

DESEJOS

Correm pelos veios das montanhas…
Embatem contra monumentos, estatelam-se em rochas.
Cabelos esvoaçam e estilhaçam,
Relincham dor – tanta história por aleitar!
Choram mentes e mudanças!

Sempre os ouço… não me dão paz.
Falam-me de margens além, caminhos que não consumi.
Anos passam e eu só fixo o que lá vem,
Parto espelhos e não me revejo, só vejo e anseio.
Invoco demónios e os planos que me reservam!

O espectro que nasceu deste meu regaço
Extravasou sonhos megalómanos,
Forças que não retenho;
Que não me captam, mas que magnetizam.
Laceram a tal ponto – quero evadir!

Repudio o viver. Desejo horizontes!
O meu último reduto é agigantar o que cá trago...
Ser mais que dois pés no solo comum. Emergir.
Almejo ser ferro e pedra, mas muito mais…
Quero ser o lar da mais bela das obras!

Ânsias que são; são as que não me assistem
Chegarei lá um dia, se os ventos me ajudarem
Quem sabe, sozinha… quem sabe, comigo.
Até lá procuro-me
E não me encontro.

sábado, 7 de março de 2009

Só hoje

...


Meu anjinho da guarda…

Hoje não te peço forças para amarrar a cabeça e abrandar a carne. Hoje (e só hoje) desprezo a ânsia de ser ferro… e com brio te digo que hoje (e só hoje) nada tenho a pedir-te.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ser eu!

Bom é ser eu.
Bom é saber que barcos e barcos passaram pelas águas intempestivas da minha alma e que mesmo assim encontraram quietude no pontão deste meu corpo desmazelado. É bom saber que não mudei. Saber que me erigi ainda mais forte, de faca em punho e rosa na lapela, pronta para travar mais uma contenda. Saber que amigos só tenho os que tenho (e não os que julguei ter).

Bom é ser eu.
Reconhecer que neste meu sangue fervilham valores que me foram passados pelos meus mentores, alguns dos quais desvirtuados pelas chagas da vida; outros tantos nascidos das mesmas mazelas. Bom saber que aprendi tanto. Aprendi que muitas vezes me perdi, mas que encontrei o meu caminho. Muitas vezes caí e tantas outras me levantei. Nem todo o rio que tentei atravessar me deu tréguas; nem toda a porta que tentei abrir me mostrou o outro lado.

Bom é ser eu.
Bom é esperar que a tempestade acalme no meu coração impetuoso e irascível… e ver que afinal sou cordeiro terno e sadio. Saber que trago em mim uma força pronta a brotar de cada vez que me pisam a mão do afecto, chacoteiam da minha natureza, ou me ferem o orgulho! Saber sarar-me desde os interstícios do meu ventre aos pequenos e atolados quartos da minha emaranhada cabeça. Sorrir de cada vez que coloco gaze no meu ego… e acreditar uma vez mais!

Bom é ser eu.
Bom é saber que afinal não lançaram mal os dados da minha existência! Aprendi que a minha tristeza é ténue e escorreita, que a minha alegria é fugaz e vigorosa, e que não passo sem nenhuma das duas! Aceitei finalmente que sou humana. E lá porque por vezes me perco, não quer dizer que esteja perdida…

Bom é poder arregaçar as calças, entrar nas frias águas de mais um rio… e novamente desafiá-lo com toda esta minha delicada, porém infatigável Humanidade.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Adeus...

...

Caí. Espalhei-me em pérolas vivas
Agitadas no chão frio do teu quarto.

Morri. Alva e desesperada
De não saber como me enterrar.

Chorei. Por absolvição
Quis unir os pontos e ver por trás

Algo me ardeu e não me apagou
Queixei, mas não resolvi

Comi meio planeta…
Não ganhei meio pão.



Desculpa-me, mas vou embora.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Muito para além




E lá se lançou na derradeira Busca, certa de que nada construiu na insipiência de tantos anos passados. A mochila gasta e velha às costas é tudo o que alguma vez teve… e acredita ela que é só do que precisa.
Muito para além ela sabe que encontrará o seu caminho.

… de tal maneira, que jamais retornará.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O ano que se avizinha

Nas vésperas de mais uma passagem de ano sento-me junto ao aquecedor, envolta em pensamentos...
Existe em mim, como em qualquer comum mortal, a vontade de arremessar para trás as más memórias do passado e passar uma borracha sobre tudo o que fiz (ou creio ter feito) de errado no ano anterior.
A 12ª badalada será o deadline para a metamorfose da minha essência. “Começar da estaca zero, Rossana”, lá me forço a lembrar repetidas vezes.
Vou perdoar as palavras e actos que me feriram e vou tolerar o meu próximo, até aquele cujas atitudes me enfastiam ou então aquele outro fulano cujas atitudes me revoltam. O eterno e sempre em voga cliché do “vou ser melhor pessoa”…
As arrelias familiares, os amigos perdidos, os falhanços sentimentais, a nota que falta no bolso, o carro que avaria em plena via rápida… São tudo partes integrantes desta minha vida, enfim esta vidinha que é a de toda a gente. Culpar-me ou, ao invés, arranjar bodes expiatórios para os problemas quotidianos não me vai aliviar a mágoa nem tão pouco recolher-me as lágrimas dos olhos. Há que resignar sorrindo… são os ossos deste ofício.
Para o ano vou olhar-me ao espelho e entender que cada sarda está no sítio onde deve estar, que o nariz mastodôntico ainda podia ser maior, que não sou o que visto e muito menos o que os outros pensam de mim, que a minha estatura não me foi atribuída de modo algum em proporção do meu valor…
Para o ano vou deixar para trás a ideia de insignificância pessoal, aprender a ser isenta de complexos, ser LIVRE… deixar andar, calmamente...
Aceitar sem vergonha o meu jeito de ser, ora fechado e espinhoso, ora dado e dócil… aceitar sem revolta nem rancor o facto de que uns gostam de mim e de que outros nem por isso. Entender que nem sempre os dados caem a meu favor, mas acreditar fervorosamente que um dia vão sair os meus números.

Aceitar… Tolerar… Perdoar.

Tal como toda a gente, enfrento diariamente esta luta que é vida, a eterna dicotomia entre o esperançar ou esmorecer, estilhaçar e colar, claudicar ou batalhar, sucumbir ou renascer… mas só nas vésperas de passagem de ano é que dou realmente o “salto de fé”.

Só nas vésperas de passagem de ano é que penso para comigo “desta vez é que é, esta noite eu vou mudar.”

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Maçãs


Não quero que seja tarde de mais
Poder bater a asa e chegar lá
Sem mágoa ou ferida aberta
Regada com álcool na garganta para fluir
E dizer o que cá nasce,
Não tapar com pá
Porque o vento sempre descobre,
E eu não quero ter frio.

Meu amigo…
Tenho um regaço grande
Bem ajeitadas cabem lá 20 maçãs.
E das grandes!
O coração quer dar o que a cabeça não deixa
… Bom, mas isto comigo é à vez:
Hoje ganha o coração!
… Amanhã perde a cabeça.

Come esta maçã. Há mais, se quiseres!

Um velho saco no chão.
Incrível o que as gentes deitam fora!
Nele cabe tudo o que me derem:
Família, amigos, amores e… maçãs.
Confesso…
Gosto de ti. Lembras-me pinhões.
Sei lá por quê! Porque sim… ora!
Acomoda-te mas é no meu saco.

… E come esta maçã. Há mais, se quiseres!

Contigo do meu lado, sede e fome silenciam.
Não sinto frio ou calor.
Receio nada!
Sei que os girassóis são flores…
e que estas maçãs são vermelhas.
Nada mais interessa.
… E sou finalmente eu!

Não quero que seja tarde de mais
Poder bater a asa e chegar lá
Sem mágoa ou ferida aberta
Regada com álcool na garganta para fluir
E dizer o que cá nasce,
Não tapar com pá
Porque o vento sempre descobre,
E eu não quero ter frio.