segunda-feira, 23 de março de 2009

DESEJOS

Correm pelos veios das montanhas…
Embatem contra monumentos, estatelam-se em rochas.
Cabelos esvoaçam e estilhaçam,
Relincham dor – tanta história por aleitar!
Choram mentes e mudanças!

Sempre os ouço… não me dão paz.
Falam-me de margens além, caminhos que não consumi.
Anos passam e eu só fixo o que lá vem,
Parto espelhos e não me revejo, só vejo e anseio.
Invoco demónios e os planos que me reservam!

O espectro que nasceu deste meu regaço
Extravasou sonhos megalómanos,
Forças que não retenho;
Que não me captam, mas que magnetizam.
Laceram a tal ponto – quero evadir!

Repudio o viver. Desejo horizontes!
O meu último reduto é agigantar o que cá trago...
Ser mais que dois pés no solo comum. Emergir.
Almejo ser ferro e pedra, mas muito mais…
Quero ser o lar da mais bela das obras!

Ânsias que são; são as que não me assistem
Chegarei lá um dia, se os ventos me ajudarem
Quem sabe, sozinha… quem sabe, comigo.
Até lá procuro-me
E não me encontro.

1 comentário:

  1. Anónimo24.3.09

    "EDUCAÇÃO PELA PEDRA"
    (João Cabral de Melo Neto)

    Uma educação pela pedra: por lições;
    para aprender da pedra, freqüentá-la;
    captar sua voz inenfática, impessoal
    (pela de dicção ela começa as aulas).
    A lição de moral, sua resistência fria
    ao que flui e a fluir, a ser maleada;
    a de poética, sua carnadura concreta;
    a de economia, seu adensar-se compacta:
    lições da pedra (de fora para dentro,
    cartilha muda), para quem soletrá-la.

    *

    Outra educação pela pedra: no Sertão
    (de dentro para fora, e pré-didática).
    No Sertão a pedra não sabe lecionar,
    e se lecionasse, não ensinaria nada;
    lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
    uma pedra de nascença, entranha a alma.

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